carta amarela #12 – champagne

Beaune, 22 de abril de 2012

Queridos amigos,

Entre dias confusos e difíceis confesso que comecei a fazer contagem regressiva para a última segunda-feira: era o dia da excursão mais esperada por mim.

Mais do que nunca coloquei o despertador pra bem cedinho, não queria perder a hora por nada nesse dia. Selecionei minha melhor gravata, passei a ferro qualquer ruguinha que estivesse na camisa e no blazer, tirei de dentro do armário minha calça social. Abri a janela para ver como estava o dia, e claro, fechei correndo com o vento frio que esperava a menor frestinha para tirar o calor da minha casa. Era um dia de sol, e eu quase não vejo dias de sol aqui. Separei os óculos escuros, preparei um café e sai de casa comendo um pan au chocolat.

Eram 8h51 quando cheguei levemente esbaforido em frente ao Le Bon Marché. De longe vi Stephanie, mais esbaforida que eu, achando que havia perdido o ônibus. Que nada, poucos haviam chegado ali.

A cada um que adentrava o ônibus a sensação era extasiante: vamos pra champagne! Todos bem vestidos – o convite pra um cocktail pedia trajes mais sociais que o nosso normal – alguns ainda com sono atrasado, mas todos bem felizes.

A viagem pra mim foi um pouco contemplativa. Enquanto alguns conversavam, quis olhar pela janela. Os campos amarelos ao redor de Paris nessa época são lindos, a paisagem é muito diferente da que estou acostumado. Stephanie, ao meu lado, dormia. Me virava vez ou outra para conversar com Patrycja e Aaron, logo atrás, empolgados com histórias. Ao longe ainda via Isabelle, quicando de cadeira em cadeira, ora conversando com Lee, ora com Brittany. Tenho uma sensação de conforto a cada sorriso de cada um desses novos amigos.

E ao chegar fomos recepcionados em um grande anfiteatro. Vimos um filme sobre a produção dos diversos tipos de champagne – além de branco e rosé mudam-se as variedades de uva, os tipos de seleção, ano – e mesmo o que define ser um “champagne” de um outro espumante qualquer. Engana-se quem acha que o nome vem só pela região. É preciso ter todo um processo clássico de produção, tipos de uva e mais o fato de ser produzido na região fazem o espumante ganhar esse nome que se emprega por aí com tanto glamour.

Fizemos a degustação, com toda a explicação de especialistas, e por fim fomos passear na cava. Deu pra ver como são armazenadas e trabalhadas as garrafas. Terminando o passeio levamos um susto: uma sala no final da cava, como uma caverna, mas com decoração moderna e preparada para o cocktail. Foi ali mesmo, no meio de garrafas em decantação!

Entre taças de champagne, conversamos; entre risos, bebemos um pouco mais. E assim se passou uma das tardes mais animadas que tivemos desde o início do curso na Ferrandi. De uma forma ou de outra, formamos uma espécie de família, onde se tem alguém disfuncional, o nerd, o tímido, o esforçado, o que canta o tempo todo (eu!). Nos abraçamos e rimos das frases eternas e engraçadíssimas que Alvin sempre tem a dizer.

Ao entrar novamente no ônibus, finalmente vi uma excursão parecida com as que tive no Brasil: resolvemos cantar. No caso, músicas dos Beatles. E assim, embalados pelo “na-na-na-na-na-na-na” de Hey Jude vimos o dia cair e os prédios de Paris aparecerem de volta em nossas vistas. O dia terminou, mas a semana só estava começando. Da melhor forma possível.

Beijos borbulhantes,

Gui

Fotos :: Yu Hsuan Cheng

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