carta amarela #119 – incompleto

carta amarela #119 – incompleto

Belo Horizonte, 12 de outubro de 2015

Queridos amigos,

Sentei-me na grama. Estiquei as pernas e os pés até sentir estalar. Me recostei vagarosamente, olhando o céu. Encostei a cabeça na grama, senti que estava levemente úmida. Fiquei olhando pra cima. A ponta dos eucaliptos tocando o céu. Cortando o azul com seus galhos balançando com o vento. Pensei em quanto tempo faz que estou solteiro. E parei pra pensar no porque procuramos sempre alguém.

Lembrei da música que diz que “é impossível ser feliz sozinho”. Não é só ela que diz isso. Muito do mundo brada a mesma mensagem. Nos filmes, nas leituras, na TV, nas conversas. Fica pra gente que a ausência de um parceiro é sinônimo de infelicidade, fracasso ou, sei lá, esquisitice. Talvez até seja verdade que as pessoas sem parceiros tendem a serem menos felizes, mas o contrário certamente é falso: estar com alguém, ter alguém, não é garantia de felicidade. É que nossas questões interiores não se resolvem tendo um amor, ou mesmo amigos e família. Essa promessa de que a felicidade vem do amor é falsa. A gente vive bem em casal estando, primeiramente, bem com a gente mesmo. E isso vai conduzindo as pessoas numa procura inútil por alguém que as faça sentir inteiras e completas. Talvez seja mesmo inato no ser humano se sentir incompleto.

Minha vida tem se tornado mais leve à medida que eu compreendo um pouco mais as minhas próprias realidades. Entender que é bom estar junto. Entender também que a solidão é importante pra gente se conhecer melhor, fonte de importantes descobertas quando se quer amar alguém um dia. Acho que quando a gente está bem com a gente mesmo e quer descobrir o mundo a nossa volta, a gente fica mais apto a ter alguém do nosso lado. Aprender também a deixar as mágoas e remorsos de relacionamentos passados pra trás. Não é preciso levar no coração tudo aquilo que nos magoou um dia. É muito pesado pra um órgão tão pequeno. Quero ainda encontrar alguém de novo. Que encontre um Guilherme mais maduro. Mais forte também. E mais leve. Já aprendi que não se desiste, nunca nunca, das coisas que tornam a vida um lugar mais gostoso de viver.

Um grande abraço,

Gui

[algumas cópias da ilustração desta carta estão na lojinha do blog, com frete grátis para todo o Brasil]

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