carta amarela #114 – do tempo

carta amarela #114 – do tempo

Belo Horizonte, 7 de setembro de 2015

Queridos amigos,

A janela vibra com o vento. Ele passa sussurando e levando a chuva com força. Lavando a rua de um fim de semana prolongado. Calmo, calmo. Lembrei que faz um ano ele me deixou. Sei que foi melhor assim pra nós dois. É engraçado como o tempo passa, as dores vão embora e os ressentimentos também. Hoje sinto com mais intensidade o barulho da chuva, o aconchego gostoso da meia luz, o verde balançando com o vento nas avenidas de beagá, a calma de quem pega no sono. Adoraria sentir borboletas no estômago de novo. Enquanto elas não vem eu continuo andando. Só guardando boas sensações.

Não faz muitos anos que aprendi realmente a cozinhar. Saber como cortar os legumes, a quantidade de tempero, os nomes dos utensílios. Menos tempo ainda que aprendi a cuidar. Levo os filhos de amigos para passear, arrumo a mesa do café para a mamãe, lavo meus tênis depois de muito caminhar por aí. Aprendi também a esperar. Que a paciência é das maiores virtudes. Pensar antes de agir, analisar se vale realmente a pena dizer sim, escolher o que é certo pra mim.

Eu aprendi a enxergar melhor a realidade. Equilibrar sonhos, organizar estrelas, sei o que vem pela frente. Eu aprendi que é muito bom aprender tudo aquilo que você sequer imaginava conseguir. Eu sempre quis ter uma vida em que pudesse aprender muito. Em que trabalhasse duro para, quando desse, levantar os pés bem alto e me sentir tranquilo. A vida que nós temos é essa de agora. Que de nada vale ansiar por um futuro definido por milhares de “se”. Por isso agora eu aprendo a valorizar mais o que acredito. O que sinto. O que anseio. O que sempre fui. Seguir o garoto quieto que adorava escrever cartas e cartões e criar mundos em papel. o menino falante mas muito tímido que andava sozinho pela escola e se esforçava muito para tirar boas notas nas provas. O homem responsável que quer construir o seu próprio mundo com as escolhas certas guiadas por muito amor e gentileza no coração.

Pensei nesse ano que se passou e nesse tempo intenso. Olhei pra chuva batendo com força na janela. Sorri. Gosto de quem não foge da chuva. O amor também é feito de trovoadas.

Um abraço, bem calmo,

Gui

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  • amanda diz:

    Mais uma delícia de carta gui. Eu adoro os abraços bem calmos… E a paz delicada de saber que qualquer hora dessas as borboletas voltam ao estômago. E enquanto isso, há tanto para viver. Retribuo o abraço, Amanda.

  • Ana Paula Montandon diz:

    O barulho da chuva na janela e a certeza de que está tudo certo, como tinha que ser. Um beijo com cheiro de terra molhada, inspirado em suas cartas amarelas…

  • karina Paranhos diz:

    Amei! Texto lindo!

  • Neste exato momento a chuva bate na janela do meu ateliê aqui em sp e seu texto me pega de jeito e sinto a sua calma me acalmar! Obrigada por por escrever lindas cartas de carinho e afeto! Beijos e te admiro muito

  • Fabiane diz:

    Gui,seus textos são sempre maravilhosos.Sempre deixa um desejo de viver a vida com amor e intensidade.Bjs

  • jusciene mendes diz:

    Que texto lindo e delicado. Parabéns Gui bjs.

  • Maira diz:

    Gui, todas as vezes que leio seus textos, tão calmos, tão cheio de sentimentos, um pergunta me vem:

    O que o Gui está esperando para escrever um livro?rs

    Tão talentoso; inúmeros talentos…uma delícia ler seus textos.

    Bjocas

    • gpoulain gpoulain diz:

      ei Maíra! que bom que gosta! sobre o livro, eu já escrevi e o lancei recentemente, se chama Cartas Amarelas. :)
      muito obrigado! beijo!

  • Aline diz:

    Estou apaixonada pelas Cartas Amarelas!
    Meu livro chegou e eu estava viajando. Minha mãe me avisou de uma encomenda que chegou e eu fiquei muito ansiosa pra chegar logo em casa e abrir o livro.
    Não consigo dizer se gosto mais das ilustrações, das receitas (que me deixam sempre com água na boca) ou das cartas. Gosto muito de tudo!
    Acho vc incrível! Sua forma de escrever parece que deixa os leitores muito próximos, como se a gente se conhecesse a vários anos, sabe.
    Não sou assim boa com as palavras como vc, mas só vim dizer que eu quero muito que você seja feliz pra sempre! <3

    • gpoulain gpoulain diz:

      ô Aline! que delícia ler isso. eu fico contente de verdade que você gostou assim. muito obrigado por esse carinho de vir me escrever isso! beijinhos

  • miriam diz:

    Gui e suas palavras certeiras, que invadem o coração, a alma! Muito bom!

  • Lola Cirino diz:

    Engraçado como assim, do nada, encontramos coisas boas por aí. Estava buscando uma postagem no chata e vi seu link perdido em uma das postagens da Júlia. E era exatamente o que precisava ler.

    Sonho com o dia em que saberei a diferença entre o que realmente deveria ser sim e o que é sim de afobação. Ultimamente, ando ouvindo por aí que minhas crendices e implicâncias são coisas de idade, que logo cresço. Então, queria saber de alguém que parece tão sábio e tão simples como você, como aprendeu a diferença entre um e outro. Tenho pra mim que os maiores defeitos são mesmo coisas da minha personalidade, coisas que não vão mudar, esteja eu com 30 ou 90. Mas quem sabe… Quando e como ficou tão confiante de que suas escolhas eram mesmo suas e não ideias retiradas ilusões, desejos ou acaso? Como soube que era, de fato, você?

    Obrigada pelas palavras, Gui. Você sempre faz parecer que são linhas saídas de uma conversa com um grande amigo.

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