carol

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É interessante escrever sobre Carol imediatamente após escrever sobre O Duque de Burgundy. Nos dois filmes temos casais de mulheres como protagonistas, mas tirando isso, os dois não têm nada em comum (exceto fotografia, figurinos e atrizes magníficas). O lesbianismo não é causa de atrito e drama em Burgundy, um filme que às vezes parece situado em outro planeta; já em Carol, estamos diante de tristes, emocionantes e catárticas verdades enfrentadas por gerações antes da nossa.

A Carol do título (Cate Blanchett) é uma dona de casa nos anos 50 em processo de divórcio; durante compras de Natal para a filha, ela conhece a vendedora Therese (Rooney Mara), mais jovem, inocente, não tão machucada pela vida. O romance que nasce entre as duas é uma história de duas gerações e um preconceito que não consegue reconhecer a felicidade dessas mulheres quando estão juntas.

O que torna Carol diferente de outros filmes sobre o mesmo tema é a personagem-título: ela não é uma mera mulher reprimida, que só pode ser ela mesma quando escondida. Carol já tem um histórico de romances com mulheres, o que provoca raiva e ciúmes no marido (Kyle Chandler). Carol é fascinante, uma mulher que sabe o preço a se pagar por ser diferente. Ela não quer ensinar Therese ou moldá-la; a vida irá fazer isso.

A palavra que talvez melhor descreva Carol para mim é calibrado. É um filme onde tudo é exemplar. Dá pra ver o esmero do diretor Todd Haynes (que é fascinado com os anos 50, como provam Longe do Paraíso e a série de TV Mildred Pierce), e tudo é pensado: os carros, as roupas, os chapéus, as malas, os penteados. Várias cenas são tão bonitas que dá vontade de pausar o filme para admirá-las mais. E pairando acima de tudo, acima dos mortais, temos Cate Blanchett e Rooney Mara. São atuações tão precisas que me deixaram boquiaberto. O sentimento “já vi de tudo” de Blanchett e os olhos cheios de surpresa de Mara; o interesse de uma pelo mundo da outra; o modo como uma busca a outra em lugares cheios de gente – e como elas reagem quando são vistas. Carol é o raro filme que, além de classudo e clássico, é emocionante porque é tão verdadeiro. E isso dói.

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