caça-fantasmas
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A refilmagem de Caça-Fantasmas já entrou pra história, embora por motivos bem pouco nobres. Desde a divulgação do remake – estrelado por quatro mulheres, em vez dos quatro homens do filme original – a produção sofreu ataques negativos por todos os lados da internet. Gente comentando em sites que o remake iria “destruir a infância” de quem ama o filme original, que a ideia de quatro mulheres nos papéis principais era absurda… Um show de misoginia, que acabou dando ao filme um recorde infeliz: o de trailer com mais “dislikes” na história do YouTube.
Por outro lado, os defensores do filme (e pessoas sensatas em geral) contra-atacaram, apontando o absurdo que era detonar tanto um filme antes mesmo da estreia; mostrando como outros N remakes de filmes idolatrados não sofreram o mesmo nível de ataque; enfim, basicamente tentando colocar bom-senso no preconceito generalizado nos comentários do YouTube e sites especializados (dias antes de o filme estrear nos EUA, uma torrente de usuários do site IMDb, o maior banco de dados virtual de cinema, começou a dar nota “um” para o remake, a mais baixa possível).
E agora que o filme estreou (e rendeu uma bilheteria razoável, nem espetacular nem desastrosa), fica a pergunta mais importante: e a qualidade do remake? É aqui que a história fica mais interessante, ao menos pra mim. Acompanhei com nojo esses ataques misóginos; no geral não sou o maior fã de remakes, mas achei excelente a ideia de quatro mulheres nos papéis principais (principalmente sendo essas mulheres atrizes cômicas fantásticas como Kristen Wiig e Melissa McCarthy). Eu queria que o filme fosse fantástico, pra calar a boca de todos os homens imbecis que escreveram coisas idiotas por aí. Mas infelizmente o filme fica no meio do caminho.
Claro que a produção desse Caça-Fantasmas começou há um bom tempo, e não dava pra esperar que a equipe do filme iria fazer uma obra direcionada aos preconceituosos de plantão. E se por um lado o filme alfineta sim os idiotas (há inclusive uma fala que menciona comentaristas do YouTube), por outro lado boa parte das piadas parece querer agradar exatamente adolescentes bocós. Não apenas uma vez, mas duas, as caça-fantasmas são alvo de vômito de fantasma; há uma cena vergonhosa envolvendo um reitor de universidade e o dedo do meio; vários diálogos só vão fazer rir quem tiver 13 anos ou menos. É compreensivo que o director Paul Feig queira agradar os adolescentes homens, já que eles são a maior parte do público pagante nos EUA; mas é triste pensar nisso quando imaginamos que esses mesmos adolescentes provavelmente foram os maiores responsáveis pelos ataques misóginos.
Mas o filme também tem acertos – e o maior deles atende pelo nome de Kate McKinnon. Praticamente desconhecida do grande público, a atriz rouba o filme sem cerimônia. Sua personagem Jillian é a caça-fantasmas mais insana, mais engraçada, mais esquisita e mais cativante do grupo. McKinnon parece estar numa versão bem mais divertida de Caça-Fantasmas, uma que não dá a minima pra opinião alheia e ao mesmo tempo consegue fazer tudo mais divertido apenas com um olhar mais intenso ou um comentário certeiro. Não que Wiig, McCarthy e Leslie Jones estejam mal, mas McKinnon opera num nível acima do resto (vale comentar o charme de Chris Hemsworth, o Thor, num raro papel cômico).
No fim das contas, esse Caça-Fantasmas feminista é esquizofrênico (além de não chegar perto, em matéria de diversão, dos filmes anteriores do diretor, Missão: Madrinha de Casamento e A Espiã Que Sabia de Menos). A possibilidade de uma continuação é incerta. Mas agora que a equipe do filme já sabe de onde os ataques virão, espero que role sim uma sequência – mega feminista, super girl power e detonando os machistas idiotas. Aí sim teremos um filme histórico, pelos motivos certos.
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