brooklin

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Sempre me perguntam se eu tenho saudade do Brasil (pra quem não sabe, moro na Alemanha há quase quatro anos). Talvez a minha resposta desaponte os alemães, talvez alguns achem que sim, eu morro de saudades e choro toda noite antes de ir dormir, saudades das praias, do sol, da comida. Mas na verdade não sinto tanta falta assim. Adoro a Alemanha. Claro que no inverno fico morrendo de vontade de estar numa praia – de preferência em Florianópolis! – e a comida brasileira continua sendo a melhor do mundo (e a mineira a melhor de todas), mas o que mais me dá saudade, obviamente, são amigos e família.

Antes de eu assistir Brooklin, um amigo que mora no Canadá há relativamente pouco tempo tinha avisado: o filme é especialmente difícil pra quem está longe da terra natal. Fui ao cinema com essa frase na cabeça. Ele estava certo: ver a jornada de Eilis (Saoirse Ronan, de Desejo e Reparação) para os EUA na década de 50, deixando a Irlanda em busca de uma vida melhor, mandando um beijo do navio para a irmã e a mãe, trouxe à tona as memórias de quando eu parti para a Alemanha, minha mãe surpreendentemente sem derramar uma lágrima – ainda bem! Teria sido muito mais difícil se ela tivesse chorado. Mas ali, no cinema, fui eu que chorei.

É até injusto comparar minha história com a de Eilis, claro. Eu tenho Skype, email, um voo para o Brasil demora umas 11 horas. Eilis só pode matar as saudades com cartas, cartas que demoram semanas para chegar. Quando ela se despede da família, já a bordo, é bem possível que ela nunca mais veja irmã e mãe. Mas acho que todo mundo que mora fora tem esse mesmo pensamento sinistro: e se eu nunca mais ver minha família?

Após um começo difícil, Eilis conhece o charmoso Tony (Emory Cohen), descendente de italianos, um doce de rapaz. E é com Tony que Eilis começa a realmente viver sua vida em Nova York, é com Tony que Eilis aprende que dá sim pra ser feliz longe de casa. Mas um acontecimento imprevisto força mudanças na vida de Eilis.

Brooklin é tremendamente cativante e delicado. O romance entre Eilis e Tony é uma delícia de ser visto, duas pessoas genuinamente interessadas uma na outra, sem motivos escusos (Tony não é um lobo em pele de cordeiro). E a atuação de Saoirse Ronan – dona de uma merecidíssima indicação ao Oscar – casa perfeitamente com o espírito do filme. Um passarinho tímido a princípio, trabalhando numa boutique mas sem coragem sequer de olhar as clientes no olho, Eilis vai se transformando aos poucos, de forma real. E quando ela começa a ser feliz, a felicidade dela é tanta que atravessa o oceano e chega até a irmã – quando a irmã lê a carta de Eilis, a paisagem irlandesa parece mais bela do que nunca. E os sentimentos são agridoces: felicidade porque Eilis está bem, e feliz; melancolia porque ah, a saudade. E como eu me identifiquei. Assim como Eilis, também tenho mãe e irmã que ficaram na terra natal. Saudades sempre!

brooklyn02

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