as pequenas virtudes

as pequenas virtudes

No meio de momentos tão conflitantes com coisas que tem acontecido não só por aqui como no mundo, caí de frente a um livro com um título que me tocou de cara: As Pequenas Virtudes. Um livro curtinho, cheio de pequenas histórias. Todas elas escritas no passar de vários anos (de 1944 a 1962) e publicadas em revistas, na época. A autora, Natalia Ginzburg, reuniu essas suas histórias que tinham em comum falar das pequenas virtudes e lançou o livro em 1962, lançado por aqui em 2015 pela Cosac Naify.

Sempre fico feliz quando alguém me diz que toma minhas cartas como suas. Gente que vem me dizer que “escreveu para mim”. Tive uma reação parecida ao ler algumas das histórias de Natalia. São todas histórias pessoais, do que via entre o que vivia. A primeira delas se passa durante a segunda guerra mundial, mas ela não cita a guerra em si. Ela não conta o que acontece, e sim o que enxerga de virtudes num mundo ao redor. Foi só lendo a orelha do livro que realmente vi algumas passagens da sua vida: Nasceu em Palermo, em 1916. Cresceu em Turim. Fez incontáveis amigos escritores e poetas. Foi ativista, contra o fascismo que se instaurou na Italia, junto a seu marido, que acabou sendo preso e morto em 1944.

Conheci esses detalhes da sua vida por fora do livro. Não são necessariamente importantes mas complementam o que li ali. Seus textos vem de dentro. Algo tão íntimo, de uma observação única do que acontecia. Sem sentimentalismos ou auto complacência. É naquele vivido mais prosaico que se revelam as vivências mais profundas. Pelos anos vão se passando mais vivências – ela se casa de novo, mora na Inglaterra por um tempo. Escreve sobre seus únicos pares de sapatos que a acompanharam em tempos de guerra. Escreve de um jeito meio melancólico sua relação com o segundo marido, num texto chamado “Ele e Eu”, onde mostra tudo aquilo que une e o que desune em uma relação. Fala sobre criar filhos e também sobre comida.

É um livro que me fez sentir bem e lembrar dessas pequenas virtudes que a gente precisa manter em mente. Daqueles que gostaria de reler de tempos em tempos. Não importa se o texto foi escrito em 1944, em 1962 ou 2015. Os temas ali presentes me parecem atuais. Natalia escreveu, em 1961, vivendo na Inglaterra, algumas coisas que não gostava sobre a Itália: “É um país onde reina a desordem, o cinismo, a incompetência, a confusão”. Parece manchete sobre o Brasil hoje. Diz, sobre os filhos: “Na educação, o que deve estar no centro dos nossos afetos é que nossos filhos nunca percam o amor à vida”. Assim ela vem, trazendo numa forma por vezes dura, por vezes sensível, a beleza da memória humana.

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