antes da meia-noite

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Primeiro foram 24 horas idílicas em Viena: um casal lindo e jovem, a francesa Celine (Julie Delpy) e o americano Jesse (Ethan Hawke) se conhece na capital austríaca e vive um romance de cinema (em mais de um sentido), mas com o adicional de diálogos muito melhores que o convencional. Nove anos depois, encontramos os dois de novo – dessa vez em Paris – para mais uma tarde paradisíaca, regada a passeios pelo Sena e outras conversas brilhantes. Agora, após Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol, Jesse e Celine chegam novamente aos cinemas em Antes da Meia-Noite. Mas se o cenário mais uma vez é de babar (agora eles se encontram na Grécia), uma coisa mudou: acabou a fantasia.

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Por melhores que sejam (e eles são realmente dois filmes excelentes), os primeiros Antes… são fantasias cinematográficas. Poderiam acontecer na vida real? Claro que sim. Mas convenhamos, são bem pequenas as chances de se conhecer um completo estranho numa cidade estrangeira, e esse estranho se revelar a paixão da sua vida. E os dois filmes funcionam porque mexem com essa nossa vontade de encontrar “aquela” pessoa – assim como tantos filmes antes. Mas o diretor/roteirista Richard Linklater (com ajuda dos dois atores) foi além e criou duas pessoas realistas, adoráveis mas cheias de defeitos, que proporcionam um divertido jogo de identificação: em certos momentos você pode se enxergar em Celine, em outros em Jesse.

Mas em Antes da Meia-Noite, a premissa básica dos dois primeiros filmes se foi. Agora eles começam o filme juntos. Estão num longo relacionamento. E por isso mesmo essa é a parte mais realista da trilogia. A parte com qual mais gente pode se identificar, penso eu. Também a mais amarga. Mas também a mais engraçada. Qualquer um que já esteve, ou está, num relacionamento longo pode rir em vários momentos das discussões do casal. Eu ri porque me identifiquei e pensei “Caramba, as inúmeras vezes em que transformei algo pequeno numa bola de neve”. E por isso tudo, é a melhor parte da trilogia.

E os diálogos. Ah, os diálogos! O trio Linklater, Delpy e Hawke está afiadíssimo. Praticamente toda fala do filme contém algo interessante – e é um filme absolutamente dominado por diálogos. Mais do que os outros dois, há várias cenas longuíssimas em apenas um ambiente; quase poderia ser uma peça de teatro. Mas o melhor é que as melhores frases não são ditas apenas para causar impacto. Elas estão inseridas no meio de longas conversas, assim como na vida real. Você repara em algo e pensa: “Puxa, que frase genial”. Mas os atores continuam falando, porque é assim no dia-a-dia. E quando há uma pausa após uma frase “impactante”, o que se segue é uma gargalhada. Porque quem diz uma frase de efeito e espera uma resposta/admiração imediata?

Lembro que, há um par de anos, Namorados Para Sempre (Blue Valentine) foi lançado no Brasil na semana do Dia dos Namorados. O título e a campanha publicitária levaram os desavisados a acreditar que o filme era romântico e fofo. Todo mundo que viu sabe que é exatamente o contrário. Pois dessa vez é diferente. Antes da Meia-Noite não poderia estrear em melhor época do que agora. É um filme fantástico, que merece ser visto e compartilhado com quem se ama. Mas também é uma lição: num relacionamento, é preciso tentar, perseverar, reconhecer os erros. Ensinamentos que soam clichê, mas quando encenados pelo trio ternura Linklater, Delpy e Hawke, entram de cara na lista dos melhores filmes sobre relacionamento que o cinema produziu.

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Antes da Meia-Noite (Before Midnight), um filme de Richard Linklater

109 minutos  EUA  2013  estreia hoje nos cinemas brasileiros (14 de junho de 2013)

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