a essência da paixão

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Na minha última coluna, escrevi sobre como Orgulho e Preconceito se tornou com o tempo um dos meus filmes favoritos. O texto foi um sucesso, com muita gente expressando seu amor pelo filme (e também pelo livro de Jane Austen). Quis aproveitar a oportunidade pra falar de um filme bem menos conhecido, mas que também se encontra no sub-gênero “filme de época adaptado de um livro famoso escrito e protagonizado por mulheres”. É uma espécie de lado B de Orgulho e Preconceito, um filme bem menos conhecido e bem mais sombrio: A Essência da Paixão.

Traduçãozinha fuleira para The House of Mirth (“A Casa da Alegria”, um título cínico e cruel), A Essência da Paixão é uma adaptação do livro de Edith Wharton, que retratou como poucos a rede de aparências que dominava a alta sociedade nova-iorquina no início do século XX. Assim como na obra de Jane Austen, a protagonista aqui também é uma mulher independente e inteligente. Mas Lily Bart (interpretada por Gillian Anderson) está muito mais presa às amarras da sociedade do que a impetuosa Elizabeth Bennett de Orgulho… Pra começar, Lily está chegando aos 30 – ou seja, para os padrões severos da sociedade onde vive, ela já está passando da hora de casar. E como bem diz um personagem, “Não é pra isso que vocês mulheres são educadas?”

Mas esse é apenas um dos problemas de Lily. Ela também é cabeça-dura e tem princípios – duas coisas que apenas os homens têm direito de ser, na sociedade mostrada na obra. Lily se recusa a casar por conveniência, e declina do convite de dois homens abastados mas desinteressantes. E mesmo tendo alguns trunfos na manga para dar a volta por cima, Lily se recusa a usá-los até o último minuto, pois isso a colocaria no mesmo (baixo) nível dos falsos que a cercam.

Falsa-mor é Bertha, interpretada pela sempre excelente Laura Linney. Traindo o marido quase à luz do dia (e usando Lily para distraí-lo), Bertha não admite que ninguém a contradiga. Por isso, após uma discussão com Lily, Bertha reage de uma das maneiras mais cruéis possíveis. E nenhuma voz é levantada, nenhum tapa dado: na sociedade em que Lily vive, as aparências são a coisa mais importante. E com a reputação de Lily piorando cada vez mais, nenhum dos “amigos” dela vem a seu socorro.

A Essência da Paixão é um filme lento e sufocante. O espectador vai ficando cada vez mais tenso, e sempre pensando em como Lily pode escapar das armadilhas em que cai. Uma crítica que eu li disse que falta imaginação a ela, porque ela não foi criada para pensar além do seu papel na sociedade. Faz sentido. A história de Lily é deveras triste, mas o filme é soberbo – e prova, entre outras coisas, que Gillian Anderson é muito mais do que a Agente Scully de Arquivo X. Anderson dá a Lily Bart a personalidade que ela precisa. E o espectador ganha uma atuação primorosa, que merece ser descoberta.

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