a espiã que sabia de menos

a espiã que sabia de menos

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Existe um ditado em inglês que anuncia: comedy is hard. A frase geralmente é utilizada quando se discute o que é mais fácil de fazer, comédia ou drama – atores cômicos questionando por que os papéis dramáticos são os mais elogiados e premiados etc. Mas eu penso no ditado em inglês também quando vou assistir a uma comédia no cinema, porque esse pra mim é o gênero mais imprevisível de todos. Todo mundo lendo esse texto já deve ter passado por isso: não achar graça nenhuma em um filme que todos acham hilário, e adorar uma comédia que os amigos desdenham.

Ir ao cinema conferir uma comédia, então, pode ser uma experiência incrivelmente frustrante. Lembro de quando assisti Se Beber Não Case, por exemplo: um cinema lotado gargalhando o tempo todo, e eu achando o filme um porre (com o perdão do trocadilho). Isso tudo é pra dizer que, quando assisto uma comédia boa na tela grande, um filme que realmente me faz rir do início ao fim, sei que estou diante de algo especial.

A Espiã Que Sabia de Menos é especial. É um filme que desafia várias convenções, e ideias pré-concebidas: parece ser uma comédia besta que parodia filmes de espionagem, mas em vários momentos poderia ser mesmo um filme de James Bond, só que mais bem-humorado. A presença de Melissa McCarthy (indicada ao Oscar por Missão Madrinha de Casamento, vale lembrar) e os trailers do filme indicam que vai ter muita piada com o fato de ela ser gorda; a história, porém, brinca o tempo todo com os estereótipos associados a mulheres gordas e solteiras. “Você provavelmente tem que ir pra casa pros seus gatos”, diz o espião galã Bradley Fine. “Eu nem tenho gatos!”, é o que responde Melissa, no papel de Susan Cooper.

Susan é uma empregada da CIA que trabalha no “escritório”, e não em campo. Embora ela seja brilhante no que faz, ela é claramente vista como sendo do segundo escalão – justamente por causa da aparência. Quando uma oportunidade pede um espião desconhecido (já que a vilã búlgara Rayna (Rose Byrne) conhece todos os top espiões da agência), Susan prontamente se voluntaria para o trabalho, enfrentando o desdém de quase todos à sua volta.

Pois é justamente aí que o filme pega fogo: aos poucos, Susan vai mostrando ser uma espiã notável, evitando que bombas sejam detonadas em meio a multidões em Paris, salvando a vida de outros espiões e por aí vai. Sempre com muito bom humor, e piadas engraçadas de verdade (ainda estou rindo da sequência em que Susan tenta alertar um espião sobre a bomba, no meio de um show na França). E quando um incidente deixa Susan cara a cara com a fria Rayna, o filme vai ao paraíso. Rayna é sim perigosa e letal, mas também é uma peste mimada. Em Susan, ela encontra uma adversária à altura, e os confrontos entre as duas são magníficos – assim como as performances de McCarthy e Byrne (que, assim como em Missão Madrinha de Casamento, mostra que é uma das melhores atrizes para o papel de antagonista em comédias desbocadas).

Surpreendentemente, me peguei em vários momentos durante o filme pensando em Mad Max: Estrada da Fúria. A Espiã Que Sabia de Menos também é um filme feminista: é sobre uma mulher que descobre seu próprio potencial sem precisar de um homem/parceiro ao seu lado; sobre uma mulher que perde o medo de confessar seus sentimentos; sobre uma mulher que luta tão bem quanto um homem (assistam a cena na cozinha e depois conversamos). Mas, acima de tudo, eis aqui a melhor comédia do ano. Um filme tão engraçado que, dias após assistir, eu ainda me pego rindo sozinho lembrando de determinados momentos. Viva Susan Cooper, a espiã que sabe mais do que muitos!

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  • Nani Nascimento diz:

    Adriano,

    eu também vi o filme no cinema e também morri de rir. O filme é muito mais do que você esperava … Melissa McCarthy, que vem fazendo filme atrás de filme, acertou em cheio neste. Já estou esperando uma Spy 2 (não, não dá pra dizer o nome desse filme em português kkkkkkkkkkkk).

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