#131 – pra onde a vida vai
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São Paulo, 27 de setembro de 2016
Querido amigo,
Por um momento escrevi 2015 na data acima. Não sei o porque. Voltei, apaguei. Escrevi 2015 de novo. Por mais de um momento pensei em te escrever. Em não te escrever. Em como o tempo vai passando. São sete meses sem cartas. Sete. Prometi a mim mesmo me escrever mais, mas esse tempo passou entre um pouco de vazio, de tempo corrido, de uma leve apatia. Quis te escrever sobre Aquarius, pra saber se você tinha gostado tanto quanto eu. Quis escrever sobre o amor, ou sobre a falta dele. Mas tive a sensação que todo mundo já tinha escrito sobre essas coisas por mim.
Então me senti cada vez mais quieto. Hoje me sento na frente da nova janela. Uma nova vista em uma nova cidade. Daqui vejo o sol passar pelas janelas dos muitos prédios que cortam o horizonte. É com o tempo que vou entendendo que posso fazer o futuro virar vontade. Que o presente seja novidade e o passado, saudade. Antes era capaz de traçar todas as rotas que teria que seguir para chegar até o futuro. Roteirizar a vida. Até que me esforcei em concentrar no que estava vivendo e me toquei de que, poxa, eu não podia continuar ditando fatos que nem sabia se aconteceriam mesmo. As expectativas geram frustração. Um dia senti a grama úmida munido do livro da vez e, no meio do som tímido das árvores, percebi que não precisava de mais nada ali. Era um daqueles momentos em que nos sentimos completos, realmente. A verdade é que em todos os dias que vivo posso estar pleno, desde que me sinta imerso no gerúndio do que acontece ali.
Porque a vida não pede muito quando a gente aceita o seu próprio roteiro, moldado em tempo real. Sem ensaios, sem preparo, sem perfeição. Viver o que acontece da melhor maneira possível. Acreditar que pode mudar, voltar, apagar ou até viver outro roteiro relâmpago que você nem fazia ideia de que poderia existir. Saber que você é, sim, capaz de transformar circunstâncias. A vida é cheia de faíscas que se apagam, mas que voltam a brilhar quando tudo o que nos acontece vira lembrança.
Saí há pouco pela tarde bem fria de fim de setembro. Entrei num ônibus. Comecei a olhar pela janela. Eram 5 da tarde. Estava um sol bonito de fim de dia que adentrava tons de amarelo em cada rua. Passei pelo movimento da Rebouças, pelo verde das árvores do canteiro central balançando com o vento. Atravessei uma pequena parte da cidade e o sol me acompanhou no trajeto todo. Vi as pessoas passando na rua. Não sei bem o que irei viver aqui ainda. Ali, imerso nessa nova vida, me senti mais vivo, de alguma forma.
Um abraço, sempre com saudades,
Gui
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